Certeiríssima crónica a de hoje de Vasco Pulido Valente no Público, que fala do estado danação, se chama «Mudar de Regime» e que reduz à sua relativa insignificância os bodes expiatórios da moda: os «neoliberais», os «mercados» e outros esoterismos afins. Infelizmente, o Público online só permite o acesso da prosa a assinantes, por isso fica aqui apenas uma amostra:
«Dez milhões de portugueses foram vítimas de uma fraude, que os fará passar anos de miséria. Toda a gente acusa deste crime, único na nossa história recente, entidades sem rosto como os "mercados", a "especulação" ou meia dúzia de agências de rating, que por motivos misteriosos resolveram embirrar com um pequeno país bem comportado e completamente inócuo. Mas ninguém acusa os verdadeiros responsáveis, que continuam por aí a perorar como se não tivessem nada a ver com o caso e até se juntam, quando calha, ao coro de lamúrias (...).
Certos pensadores profissionais acham mesmo que o próprio regime que engendrou a presente tragédia é praticamente perfeito e que não se deve mexer na Constituição em que ele assenta. Isto espanta, porque a reacção tradicional costumava ser a de corrigir as regras a que o desastre era atribuível. Basta conhecer a história de França, de Espanha ou mesmo de Portugal para verificar que várias Monarquias, como várias Repúblicas, desapareceram exactamente pela espécie de irresponsabilidade (e prodigalidade) que o Estado do "25 de Abril" demonstrou com abundância e zelo desde, pelo menos, 1990. A oligarquia partidária e a oligarquia de "negócios" que geriram, em comum, a administração central e as centenas de sobas sem cabeça ou vergonha da administração local não nasceram por acaso (...)».
Nem de propósito, o Diário de Notícias tem transformado esta opinião em factos num excelente dossier sobre o estado a que o Estado chegou. Está aqui e também é de leitura altamente recomendável. Agora queixem-se dos «mercados»...
p.s.: Entretanto encontrei isto, com uma reprodução digitalizada do texto de VPV.
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