Despesas militares comparadas

Um gráfico extraordinário, que ajuda a colocar as coisas na sua devida perspectiva. No top 50 dos países que mais gastam dinheiro com a tropa, por relação ao seu orçamento nacional, a maioria é do chamado "terceiro mundo", e sobretudo do chamado mundo árabe, nações que certamente deveriam ter outras prioridades (só falta dizerem que a culpa é de quem vende...) de investimento, sendo que os EUA ficam em 28º: Orçamento militar - porcentagem do PIB - Comparação entre Países

A última década e o lado cheio da garrafa

Na Foreign Policy. Uma excelente análise da primeira década do século XXI, aparentemente trágica para os adeptos da narrativa apocalíptica. Uma janela sobre balanços que não fazem manchetes:

«The past 10 years have gotten a bad rap as the "Naughty Aughties" -- and deservedly so, it seems, for a decade that began with 9/11 and the Enron scandal and closed with the global financial crisis and the Haiti earthquake. In between, we witnessed the Asian tsunami and Hurricane Katrina, SARS and swine flu, not to mention vicious fighting in Sudan and Congo, Afghanistan and, oh yes, Iraq. Given that our brains seem hard-wired to remember singular tragedy over incremental success, it's a hard sell to convince anyone that the past 10 years are worthy of praise.

But these horrific events, though mortal and economic catastrophes for many millions, don't sum up the decade as experienced by most of the planet's 6-billion-plus people. For all its problems, the first 10 years of the 21st century were in fact humanity's finest, a time when more people lived better, longer, more peaceful, and more prosperous lives than ever before.»

Opening Gambit: Best. Decade. Ever. - By Charles Kenny | Foreign Policy

Ray Bradbury. 90 anos.


«The things that you do, should be things that you love, and the things that you love should be things that you do».

Ciência em rede

Excelentes notícias na frente de batalha do Alzheimer. Mas o facto de trazer para aqui este artigo deve-se mais às circunstâncias que rodeiam a notícia. A cultura da rede, tantas vezes atacada pelos pessimistas da modernidade, que se apoia por um lado nas noções de liberdade de informação e por outro no princípio da partilha, também tem tido um impacto extraordinário no desenvolvimento científico. Esta notícia mostra um futuro em que nunca tantos recursos e conhecimento se mobilizaram em cooperação para resolver alguns dos mais graves problemas da humanidade. A área da saúde não é exemplo único, mas é paradigmático: Rare Sharing of Data Led to Results on Alzheimer’s - NYTimes.com

Navegar é preciso

No subterrâneos da web, altas movimentações se agigantam. E colocam em risco este modelo livre de internet que temos tido há cerca de duas décadas. Esperemos que o futuro não seja isto. A propósito de um acordo entre a Google e a Verizon:

«(...) A leitura da proposta é estarrecedora. Basicamente, quando ela for aprovada as redes wireless passam a ter os conteúdos que cada operador decidir vender e o consumidor e os agentes do mercado perdem poder e voz, manietados por leis que colocam nas mãos da pequena parcela de empresas que controlarem o mercado não apenas a decisão do que é ou não é conteúdo público como a capacidade de julgar quem discorde. (...)»

Adeus neutralidade, olá "auto-estradas da informação" - Ondas na Rede - Comunidade Correio da Manhã

Como podemos pensar

Saindo de seis anos de uma segunda guerra mundial, a comunidade científica, até aí, como todos os outros sectores da sociedade, empenhada no esforço de guerra, procura novos caminhos, novos desafios e novas "causas". É este o contexto deste ensaio de Vannevar Bush, publicado em 1945: As We May Think - Magazine - The Atlantic

A Democracia sem tabús

Quatro excelentes prosas para um debate sobre a natureza dos regimes democráticos, de base parlamentar, e possíveis alternativas:

A internet está a mudar a nossa forma de pensar

«(...) To the specific question that Mr Carr asks about what the internet is doing to our brains, the simple answer is that it is making us think and behave differently. Of that, there is no doubt. But that does not mean we are getting dumber in the process. What makes people intelligent is their ability to learn and reason—in short, to adapt and thrive within their environment. That fundamental capacity has not changed in thousands of years, and is unlikely to do so because some new technology comes along, whether television, mobile phones or the internet.

Adaptation to one’s changing surroundings is a different matter. Every new medium introduced since the invention of the printing press has molded our minds in different ways. It would be alarming if it didn’t. Today, confronted with the ubiquity of the internet, we need a whole new set of skills to navigate the information-laden environment we inhabit. In other words, each new set of skills we learn and memories we create builds on our existing mental capacities without changing them in any fundamental way.

Still, the Jeremiahs have a point. Their concern is that prolonged use of the internet—with its smorgasbord of tantalising titbits of information—is producing a generation of magpie minds, as users hop from one bright trinket to another, rarely focussing long enough on any one topic to comprehend it thoroughly. According to this view of the brain, the lack of “deep thinking” lies at the heart of the present generation’s inability to sweat the hard stuff. Google, with its instant access to factoids of dubious veracity, is singled out as a primary source of the malaise.(...)»


The internet is changing the way you think: The Difference Engine: Rewiring the brain | The Economist

Mapa animado impressionante: As explosões nucleares de 1945 a 1998

O Facebook e as relações humanas

De como as redes sociais digitais influenciam o nosso comportamento social, ou abrem novas vias para velhas tendências. Algumas tão antigas como a espécie humana. Como afirma um dos entrevistados, Nelson Zagalo (que faz aqui uma excelente introdução ao tema), “A razão disto (da facilidade com que se fazem e desfazem novos amigos na web) prende-se com a necessidade fundamental que temos de viver em grupo e de ter companhia. Como tal todas as possibilidades que se abrem à hipótese de construção de relações com o outro são aproveitadas. A parte benéfica das redes sociais é que aqui o contacto social possui uma rede de segurança que é a distância física e o assincronismo”. Uma reportagem muito curiosa da Outlook: d_econo_facebook_3.7.2010.pdf (objeto application/pdf)

Como é que funciona a internet

Uma excelente infografia, para quem estiver interessado em perceber melhor afinal o que isto da world wide web e da estrutura que a suporta. A resposta à clássica questão, "como é que isto funciona?":

How The INTERNET Works (via Online Schools)

[Via: Online Schools]

Da ética

«(...) Se Deus não existe, o que será da ética? Desde o século XVII que esta tem sido uma das questões centrais da filosofia. Na idade moderna, houve um relativo consenso de que a ética deve ser entendida como fenómeno humano — produto das necessidades, interesses e desejos do homem — e nada mais.

Thomas Hobbes (1588–1679) foi o primeiro pensador moderno importante a fornecer uma fundamentação secular e naturalista para a ética. Hobbes, que ganhava a vida como tutor e secretário de famílias aristocráticas, era monárquico e materialista, o que não raras vezes o colocou em sarilhos. Hobbes pressupõe que "bom" e "mau" são nomes que damos às coisas de que gostamos ou de que não gostamos. Assim, quando tu e eu gostamos de coisas diferentes, é por considerarmos boas ou más coisas diferentes. Contudo, Hobbes disse que este é um traço fundamental da nossa psicologia. Somos basicamente criaturas egoístas que querem viver tão bem quanto venha a ser possível. Isto é a chave para entender a ética. A ética surge quando as pessoas compreendem o que hão-de fazer para viver bem.

Hobbes refere que cada um de nós vive incomensuravelmente melhor se viver num sistema de cooperação social em vez de viver por conta própria. Os benefícios da vida social vão além da camaradagem. A cooperação social torna possível a existência de escolas, hospitais e auto-estradas; casas com electricidade e aquecimento central; aviões e telefones, jornais e livros; filmes, ópera e bingo; ciência e agricultura. Sem a cooperação social perderíamos tudo isso. Assim, é vantajoso para cada um nós fazer o que é necessário para estabelecer e manter a sociedade cooperativa.

Mas parece que uma sociedade mutuamente cooperativa só pode existir se adoptarmos certas regras de comportamento — regras que exigem que se diga a verdade, que cumpramos as nossas promessas, que respeitemos a vida e a propriedade dos outros, e assim por diante:

- Sem o pressuposto de que as pessoas falam a verdade, não haveria razão para as pessoas prestarem atenção ao que os outros dizem. A comunicação seria impossível. E sem comunicação entre os seus membros, a sociedade entraria em colapso.

- Sem a exigência de as pessoas cumprirem as suas promessas, não poderia haver divisão do trabalho — os trabalhadores não acreditariam que seriam pagos, os distribuidores não poderiam confiar nos acordos com os fornecedores, e assim por diante — e a economia entraria em colapso. Não haveria comércio, construção civil, agricultura, ou medicina.

- Sem a protecção contra assaltos, homicídios e roubos, ninguém se sentiria seguro. Todos estariam em alerta constante relativamente aos outros, e a cooperação social seria impossível.

Assim, para obter os benefícios da vida social, temos de celebrar um contrato uns com os outros, em que cada um de nós concorda em obedecer às regras que este estabelece, desde que os outros também o façam. Este "contrato social" é a base da moralidade. Logo, a moralidade pode ser entendida como o conjunto de regras que pessoas racionais consentem em obedecer, para seu benefício mútuo, desde que as outras pessoas também o façam. (...)»

James Rachels, in “Problems from Philosophy”

O despertar das civilizações

Excelente, esta série de documentários australianos sobre a pré-história e a formação das primeiras sociedades organizadas. Histórias da Idade da Pedra. Em três partes:



Os livros e a realidade

«(...) Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas. 

Li quase tudo quanto os nossos historiadores, os nossos poetas e mesmo os nossos narradores escreveram, apesar de estes últimos serem considerados frívolos, e devo-lhes talvez mais informações do que as que recebi das situações bastante variadas da minha própria vida. A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros.

Mas estes mentem, mesmo os mais sinceros. Os menos hábeis, por falta de palavras e de frases onde possam abrangê-la, traçam da vida uma imagem trivial e pobre; alguns, como Lucano, tornam-na mais pesada e obstruída com uma solenidade que ela não tem. Outros, pelo contrário, como Petrónio, aligeiram-na, fazem dela uma bola saltitante e vazia, fácil de receber e de atirar num universo sem peso. Os poetas transportam-nos a um mundo mais vasto ou mais belo, mais ardente ou mais doce que este que nos é dado, por isso mesmo diferente e praticamente quase inabitável. Os filósofos, para poderem estudar a realidade pura, submetem-na quase às mesmas transformações a que o fogo ou o pilão submetem os corpos: coisa alguma de um ser ou de um facto, tal como nós o conhecemos, parece subsistir nesses cristais ou nessas cinzas. Os historiadores apresentam-nos, do passado, sistemas excessivamente completos, séries de causas e efeitos exactos e claros de mais para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros; dispõem de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. Os narradores, os autores de fábulas milésias, não fazem mais, como os carniceiros, que pendurar no açougue pequenos bocados de carne apreciados pelas moscas. Adaptar-me-ia muito mal a um mundo sem livros; mas a realidade não está lá, porque eles a não contêm inteira. (...)»


Marguerite Yourcenar, in "Memórias de Adriano"

A crise moral

«(…) Apesar desse seu diagnóstico todos os dias ouvimos dizer que a nossa sociedade é, cada vez mais, uma sociedade sem valores, como é que ...