Chatroullete para doentes

O conceito/efeito Chatroullete multiplicou-se entretanto numa imensidão de formatos e projectos. Um dos mais interessantes é este HealCam, onde gente doente pode encontrar conforto ou conselho junto de quem padece da mesma maleita: HealCam: Talk to Patients Like You

A globalização (também) é isto

Email, Twitter, Facebook, Al Jazera, BBC, Wikileaks, NYT, You Tube, SMS's, Blogues, Feeds RSS, são apenas alguns rostos de charneira para uma revolução mais vasta e que transportam para a rua popular a velha máxima das elites: Informação é poder. Não deixa de ser curioso, por outro lado, que todas elas representam o triunfo global do soft power democrático-liberal ocidental e, em grande medida, norte-americano. Resta saber até onde resistirão à mudança e ao apelo da liberdade regimes mais repressivos, mais religiosos e consolidados como o Irão (que recentemente conseguiu abafar uma revolta popular semelhante às actuais) ou a Arábia Saudita: Middle East protests: Fearless protesters challenge regimes around Middle East - latimes.com

Palavras

Anselmo Borges, a natureza e os animais

Só é pena os cristãos comuns não andarem normalmente a par destas exegeses mais progressistas, enfim. Fora isso, temos aqui uma reflexão pertinente e até diria corajosa, vinda de uma figura de proa de uma comunidade (católica) regra geral conservadora. O povo das touradas crente e temente é que é capaz de não achar muita graça. É de ler. Aqui: Conviver com a natureza e os animais - Opinião - DN

Os EUA e a China, segundo Kissinger

Portugal e a culpa dos outros

Certeiríssima crónica a de hoje de Vasco Pulido Valente no Público, que fala do estado danação, se chama «Mudar de Regime» e que reduz à sua relativa insignificância os bodes expiatórios da moda: os «neoliberais», os «mercados» e outros esoterismos afins. Infelizmente, o Público online só permite o acesso da prosa a assinantes, por isso fica aqui apenas uma amostra:

«Dez milhões de portugueses foram vítimas de uma fraude, que os fará passar anos de miséria. Toda a gente acusa deste crime, único na nossa história recente, entidades sem rosto como os "mercados", a "especulação" ou meia dúzia de agências de rating, que por motivos misteriosos resolveram embirrar com um pequeno país bem comportado e completamente inócuo. Mas ninguém acusa os verdadeiros responsáveis, que continuam por aí a perorar como se não tivessem nada a ver com o caso e até se juntam, quando calha, ao coro de lamúrias (...).

Certos pensadores profissionais acham mesmo que o próprio regime que engendrou a presente tragédia é praticamente perfeito e que não se deve mexer na Constituição em que ele assenta. Isto espanta, porque a reacção tradicional costumava ser a de corrigir as regras a que o desastre era atribuível. Basta conhecer a história de França, de Espanha ou mesmo de Portugal para verificar que várias Monarquias, como várias Repúblicas, desapareceram exactamente pela espécie de irresponsabilidade (e prodigalidade) que o Estado do "25 de Abril" demonstrou com abundância e zelo desde, pelo menos, 1990. A oligarquia partidária e a oligarquia de "negócios" que geriram, em comum, a administração central e as centenas de sobas sem cabeça ou vergonha da administração local não nasceram por acaso (...)».


Nem de propósito, o Diário de Notícias tem transformado esta opinião em factos num excelente dossier sobre o estado a que o Estado chegou. Está aqui e também é de leitura altamente recomendável. Agora queixem-se dos «mercados»...

p.s.: Entretanto encontrei isto, com uma reprodução digitalizada do texto de VPV.

Ainda a Tunísia

Era bom que servisse de facto de rastilho para os povos das restantes ditaduras árabes, que, aliás, compõem quase todo o mundo árabe. Aliás, quase todo o mundo muçulmano. O problema é que não há alternativas democráticas e a única opção viável acabam por ser os movimentos religiosos, por norma radicais. Que é mais ou menos sair da frigideira para a panela. Entre uma ditadura secular à tunisina e uma teocracia à iraniana, venha o diabo e escolha...Joy as Tunisian President Flees Offers Lesson to Arab Leaders - NYTimes.com

A propósito da Tunísia

«The spirit of resistance to government is so valuable on certain occasions, that I wish it always to be kept alive», Thomas Jefferson

Triste. Muito triste

É simplesmente inacreditável a enxurrada de anormais cavernícolas que estão a saltar do armário em tudo o que é website noticioso e blog a propósito do homicídio de Carlos Castro. O JN online, então, é particularmente assustador. O que me incomoda mais nisto tudo, de facto, nem é tanto rezarem missas pelo assassino sem um ámen sequer pelo assassinado. Ou a desculpabilização homofóbica colectiva de um homicida. É mais as centenas de comentários que poluem os artigos com ódio, estupidez e intolerância e que explicam à saciedade a razão profunda da nossa crise centenária que se agudiza. Perante a qualidade destes cidadãos, desta multidão de grunhos beatos, nem o FMI nos safa. Tristíssimo.

Sítios a não perder no distrito de Coimbra

Excelente, esta lista de pontos de interesse incontornáveis nos 17 concelhos do distrito de Coimbra. Aproveitem e continuem a visitar este website Portugal Notável, que é em si próprio um sítio notável: 104 locais notavéis de Coimbra | Portugal Notável. Os mais belos lugares. Guia das melhores Viagens na Minha Terra...

Eles andem aí, versão alegre

Olha este também caiu na vertigem prapular das conspirações. Mais uns dias e está a falar do Grupo de Bilderberg. Era ainda mais interessante se, em vez de remeter para Cavaco, explicasse ele próprio qual é afinal o significado da entrada do FMI. E já agora, que explique tambem qual o significado e a consequência da respectiva não-entrada. Assim dá a impressão de que não sabe do que está a falar, que está a levantar poeira e, sobretudo, que o opositor sabe mais do que ele de assuntos que são hoje os mais prementes para os portugueses. E se não percebe de Finanças, pelo menos rodeie-se de quem sabe. Assim não. Para mandar bitaites inconsequentes já bastam os outros. Acção especulativa para forçar FMI tem cumplicidades em Portugal - Economia - Jornal de negócios online

Da coerência e das convicções

Recentemente, entre a poesia de algumas campanhas políticas, tomou de novo relevo aquele grosseiro hábito de polemista que consiste em levar a mal uma criatura que ela mude de partido, uma ou mais vezes, ou que se contradiga freqüentemente. A gente inferior que usa opiniões continua a empregar esse argumento como se ele fosse depreciativo. Talvez não seja tarde para estabelecer, sobre tão delicado assunto do trato intelectual, a verdadeira atitude científica.
Se há fato estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentada sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo própria. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro conseqüentemente. Como, então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando não só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo Estádio de evolução tal desgraça seria natural.
A coerência, a convicção, a certeza são, além disso, demonstrações evidentes – quantas vezes escusadas – de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade.
Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter não crenças religiosas, opiniões políticas, predileções literárias, mas sensações religiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária.
Certos estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm, sobretudo quando excessivos, o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variarão, como é de entender, consoante esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz da sua sensibilidade e da sua inteligência espelhos do mundo transitório: é republicano de manhã e monárquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, e católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo admitir senão Mallarmé àqueles momentos do anoitecer citadino em quem desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo uma invenção de louco quando, ante uma solidão de mar, ele não souber de mais do que da Odisséia.
Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida.
Quando é que despertaremos para a justa noção de que política, religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética – a estética dos que ainda não podem ser? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerência tiver acostumado suas sensações a viverem independentemente se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegância e serenidade na vida.

Fernando Pessoa in “Do contraditório como terapêutica da libertação”

A crise moral

«(…) Apesar desse seu diagnóstico todos os dias ouvimos dizer que a nossa sociedade é, cada vez mais, uma sociedade sem valores, como é que ...