Ideias para o país

Ontem à noite andava a fugir ao espetáculo histérico da campanha eleitoral televisiva, e fui serenar as ideias para uma entrevista que entretanto estava a dar na SIC Notícias, entre o sempre excelente António José Teixeira e um homem que devia ter mais palco em Portugal (sim, acho que tem pouco), Artur Santos Silva, que o comum dos mortais conhece como «banqueiro», por ser fundador e presidente do BPI, mas que é muito mais do que isso. É também um homem inteligente, que conhece como ninguém o sistema e que tem ideias importantes. Ainda que para muitos a mera referência à palavra "banqueiro" possa causar repulsa, vale a pena tapar o nariz e ouvir ou ler este senhor onde e quando for possível.

Na altura em que se falava sobre se em Portugal há Estado a mais ou Estado a menos, tomei algumas notas. Para Artur Santos Silva, há pelo menos três níveis de entendimento dessa questão. A nível cultural, e sobretudo na cultura empresarial, na cultura privada, lamenta, «nós não largamos o situacionismo». Consequência? «Tem havido excessiva miscigenação entre aqueles que gerem o bem público e aqueles que gerem interesses privados».

Depois de décadas de Estado Novo, marcado por um forte iliberalismo e pela manutenção de um status quo de relações de privilégio e de monopólio com certos grupos económicos e famílias poderosas, com um Estado todo poderoso e tutelar, Portugal ainda mantém muitos desses hábitos e mentalidades, apesar de começar a ganhar alguma massa crítica privada independente, mais liberta da tutela e do favor estatal, e como tal menos onerosa também para o cidadão contribuinte. Esse, defende Santos Silva, deve zelar para que os seus impostos garantam, por exemplo, o seguinte: Um sistema em que o «Estado deve assegurar a existência de reguladores mais capazes e independentes», escolhidos e escrutinados com verdadeira transparência no Parlamento.

O Estado na economia, como tal, tem sobretudo de ser um bom regulador e um bom aplicador da regulação.

Já na sua incontornável função de estado social, essa «tem de ir para os mais fracos, o mais longe possível; agora, para os que possam pagar...». Acho que sim. E muito mais. A entrevista foi longa, estas notas ficam muito aquém e espero que esteja em breve nas internets, porque é de ouver.

Secularismo

"Religious leaders easily assume that secularism means a rejection of religion. In fact, it is merely a resituating of religion in a free society. The secular mind makes space for religious belief and spiritual practice but challenges the assumptions of privilege that religious people often drag along from an earlier age", Laurence Freeman, The Tablet

A crise moral

«(…) Apesar desse seu diagnóstico todos os dias ouvimos dizer que a nossa sociedade é, cada vez mais, uma sociedade sem valores, como é que ...