A ver o mar
«(...) Quando, há pouco, falei das férias remuneradas, eu lembro-me que a chegada das férias remuneradas à praia de Deauville foi uma coisa! Para um cineasta, isso poderia tornar-se uma obra-prima, pois era prodigioso ver aquela gente vendo o mar pela primeira vez! Eu vi uma pessoa vendo o mar pela primeira vez na vida e é esplêndido! Era uma menina da região de Limousin que estava conosco e que viu o mar pela primeira vez. Se existe alguma coisa inimaginável quando nunca se o viu, esta coisa é o mar. A gente pode imaginar que seja grandioso, infinito, mas tudo isso perde a força quando se vê o mar. Aquela menina ficou umas quatro ou cinco horas diante do mar, completamente aparvalhada, e não se cansava de ver um espetáculo tão sublime, tão grandioso! Então, à praia de Deauville, que tinha sido sempre exclusiva dos burgueses, como se fosse propriedade deles, de repente, chega o povo das férias remuneradas... Pessoas que nunca tinham visto o mar. E foi fantástico. Se o ódio entre as classes tem algum sentido são palavras como as que dizia a minha mãe — que, no entanto, era uma mulher fabulosa —, sobre a impossibilidade de se freqüentar uma praia em que havia gente como aquela. Foi muito duro. Acho que eles, os burgueses, nunca esqueceram. Maio de 68 não foi nada perto disso.(...)»
Gilles Deleuze (in série de entrevistas "O Abecedário de Gilles Deleuze")
Falar e escrever
«(...) Não é erudição, eles sabem falar, primeiro viajaram, viajaram na História, na Geografia, sabem falar de tudo. Ouvi na TV, é assustador, ouvi nomes, então, como tenho muita admiração, posso dizer, gente como Umberto Eco, é prodigioso, o que quer que lhe digam, pronto, é como se apertassem em um botão, e ele sabe, além disso... Não posso dizer que invejo isso. Fico assustado, mas não invejo. O que é a cultura? Ela consiste em falar muito, não posso me impedir de... sobretudo agora que já não dou aulas, estou aposentado, falar, acho cada vez mais, falar é um pouco sujo. É um pouco sujo, a escrita é limpa. Escrever é limpo e falar é sujo. É sujo porque é fazer charme. Nunca suportei colóquios, estive em alguns quando era jovem, mas nunca suportei colóquios.(...)»
Gilles Deleuze (in série de entrevistas "O Abecedário de Gilles Deleuze")
Freud. A voz
E eis o único registo sonoro de Sigmund Freud, que gravou estas palavras aos 81 anos, para uma equipa da BBC que se deslocou a sua casa. Freud acabara de se mudar Inglaterra, fugindo à anexação nazi da Áustria e sofria de cancro no maxilar (fumador inveterado...), o que tornava bastante doloroso o simples exercício de falar. E no entanto, aqui estão as suas palavras vivas.
Do site:
(...) This was recorded as his home recording, and later broadcasted as a part of the BBC broadcast "Celebrities on Radio", which was broadcasted on December 27th, 1938.
Freud was very ill at this time - he was suffering from throat cancer. Because of this, he talks very slowly in a very indistinct accent. Freud died nine month later after this broadcast.
Freud Says; I started my professional activity as a neurologist trying to bring relief to my neurotic patients. Under the influence of an older friend and by my own efforts, I discovered some important and new facts about the unconscious in psychic life, the role of instinctual urges and so on.
Out of these findings grew a new science, Psycho-Analysis, a part of psychology and a new method of treatment of the neuroses. I had to pay heavily for this bit of good luck. People did not believe in my facts and thought my theories unsavoury. Resistance was strong and unrelenting.
In the end I suceeded in acquiring pupils and building up an International Psycho-Analytic Association. But this struggle is not yet over.
Pistas para a felicidade. Pilares da nossa civilização
Devemos estudar os meios de alcançar a felicidade, pois, quando a temos, possuímos tudo e, quando não a temos, fazemos tudo por alcançá-la. Respeita, portanto, e aplica os princípios que continuadamente te inculquei, convencendo-te de que eles são os elementos necessários para bem viver. Pensa primeiro que o deus é um ser imortal e feliz, como o indica a noção comum de divindade, e não lhe atribuas jamais carácter algum oposto à sua imortalidade e à sua beatitude. Habitua-te, em segundo lugar, a pensar que a morte nada é, pois o bem e o mal só existem na sensação. De onde se segue que um conhecimento exacto do facto de a morte nada ser nos permite fruir esta vida mortal, poupando-nos o acréscimo de uma ideia de duração eterna e a pena da imortalidade. Porque não teme a vida quem compreende que não há nada de temível no facto de se não viver mais. É, portanto, tolo quem declara ter medo da morte, não porque seja temível quando chega, mas porque é temível esperar por ela. É tolice afligirmo-nos com a espera da morte, visto ser ela uma coisa que não faz mal, uma vez chegada. Por conseguinte, o mais pavoroso de todos os males, a morte, nada significa para nós, pois enquanto vivemos a morte não existe. E quando a morte veio, já não existimos nós. A morte não existe, portanto, nem para os vivos nem para os mortos, pois para uns ela não é, e pois os outros não são mais.
(...) Deve, em terceiro lugar, compreender-se que, de entre os desejos, uns são naturais e os outros vãos e que, de entre os naturais, uns são necessários e os outros somente naturais. Finalmente, de entre os desejos necessários, uns são necessários à felicidade, outros à tranquilidade do corpo e outros à própria vida. Uma teoria verídica dos desejos ajustará os desejos e a aversão à saúde do corpo e à ataraxia da alma, pois é esse o escopo de uma vida feliz, e todas as nossas acções têm por fim evitar ao mesmo tempo o sofrimento e a inquietação.
Quando o conseguimos, todas as tempestades da alma se desfazem, não tendo já o ser vivo de dirigir-se para alguma coisa que não possui, nem buscar outra coisa que possa completar a felicidade da alma e do corpo. Porque nós buscamos o prazer somente quando a sua ausência causa sofrimento. Quando não sofremos, não sabemos que fazer do prazer. E por isso dizemos que o prazer é o começo e o fim de uma vida venturosa. O prazer é, na verdade, considerado por nós como o primeiro dos bens naturais, é ele que nos leva a aceitar ou a rejeitar as coisas, a ele vamos parar, tomando a sensibilidade como critério do bem. Ora, pois que o prazer é o primeiro dos bens naturais, segue-se que não aceitamos o primeiro prazer que vem, mas em certos casos desdenhamos numerosos prazeres quando têm por efeito um tormento maior. Por outro lado, há numerosos sofrimentos que reputamos preferíveis aos prazeres, quando nos trazem um maior prazer. Todo o prazer, na medida em que se conforma com a nossa natureza, é portanto um bem, mas nem todo o prazer é entretanto necessariamente apetecível. Do mesmo modo, se toda a dor é um mal, nem toda é necessariamente de evitar. Daqui procede que é por uma sábia consideração das vantagens e dissabores que traz que cada prazer deve ser apreciado. Na verdade, em certos casos, tratamos o bem como um mal e, noutros, o mal como um bem.
Depender apenas de si mesmo é, em nossa opinião, grande bem, mas não se segue, por isso, que devamos sempre contentar-nos com pouco. Simplesmente, quando a abundância nos falece, devemos ser capazes de contentar-nos com pouco, pois estamos persuadidos de que fruem melhor a riqueza aqueles que menos carecem dela e que tudo que é natural se alcança facilmente, enquanto é difícil obter o que o não é. As iguarias mais simples dão tanto prazer como a mesa mais ricamente servida, quando está ausente o tormento que a carência determina, e o pão e a água causam o mais vivo prazer quando os tomamos após longa privação. O hábito da vida simples e modesta é portanto boa maneira de cuidar da saúde e torna, além disso, o homem corajoso para suportar as tarefas que deve necessariamente realizar na vida. Permite-lhe ainda, eventualmente, apreciar melhor a vida opulenta e endurece-o contra os reveses da fortuna. Por conseguinte, quando dizemos que o prazer é o soberano bem, não falamos dos prazeres dos debochados, nem dos gozos sensuais, como pretendem alguns ignorantes que nos combatem e desfiguram o nosso pensamento. Falamos da ausência de sofrimento físico e da ausência da perturbação moral.
Porque não são nem as bebidas e os banquetes contínuos, nem o prazer do trato com as mulheres, nem o júbilo que dão o peixe e a carne com que se enchem as mesas sumptuosas que ocasionam uma vida feliz, mas hábitos racionais e sóbrios, uma razão buscando incessantemente causas legítimas de escolha ou de aversão e rejeitando as opiniões susceptíveis de trazerem à alma a maior perturbação.
O princípio de tudo isto e, ao mesmo tempo, o maior bem é, portanto, a prudência. Devemos reputá-la superior à própria filosofia, pois que ela é a fonte de todas as virtudes que nos ensinam que não se alcança a vida feliz sem a prudência, a honestidade e a justiça e que a prudência, a honestidade e a justiça não podem obter-se sem o prazer.
As virtudes, efectivamente, provêm de uma vida feliz, a qual, por sua vez, é inseparável das virtudes.
Epicuro, in "Carta a Meneceu"
Do not go gentle
Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
Dylan Thomas
Contributos (grátis) para a história do Brasil
«A Coleção Aplauso, projeto da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, disponibiliza 222 livros sobre a vida e a obra de grandes nomes da cultura brasileira para download ou leitura on-line. Os livros podem ser baixados nos formatos TXT ou PDF ou lidos no próprio site. Biografias e depoimentos de artistas, cineastas, músicos, dramaturgos, além de roteiros de cinema, peças de teatro e a história de algumas emissoras de televisão como TV Tupi, TV Excelsior e Rede Manchete, estão disponíveis. (...)»: 222 livros sobre a vida e a obra de grandes nomes da cultura brasileira para download - Jornal Opção
Pensar os ciganos
"The Roma occupied a unique position from the outset. They belonged to those who were not there from the beginning, who were not expected and who therefore had to disappear again. They were seen as sinister because they 'lurked everywhere' and 'came and went' according to inscrutable rules. This gave rise to a uniform moment of perception and encounter: the ambivalence of contempt and fascination. A repository of stereotypes, images, motifs, behavioural patterns and legends developed early on, at the transition from the Middle Ages to the modern period.". Eurozine - Europe invents the Gypsies - Klaus-Michael Bogdal The dark side of modernity
LED Snowboarding
Da´página: «A Night-time Snowboarding Short Lights Up the Last of the Winter Snow Fashion photographer and filmmaker Jacob Sutton swaps the studio for the slopes of Tignes in the Rhône-Alpes region of south-eastern France, with a luminous after hours short starring Artec pro snowboarder William Hughes. The electrifying film sees Hughes light up the snow-covered French hills in a bespoke L.E.D.-enveloped suit courtesy of designer and electronics whizz John Spatcher. "I was really drawn to the idea of a lone character made of light surfing through darkness," says Sutton of his costume choice. "I've always been excited by unusual ways of lighting things, so it seemed like an exciting idea to make the subject of the film the only light source." Sutton, who has created work for the likes of Hermès, Burberry and The New York Times, spent three nights on a skidoo with his trusty Red Epic camera at temperatures of -25C to snap Hughes carving effortlessly through the deep snow, even enlisting his own father to help maintain the temperamental suit throughout the demanding shoot. "Filming in the suit was the most surreal thing I've done in 20 years of snowboarding," says Hughes of the charged salopettes. "Luckily there was plenty of vin rouge to keep me warm, and Jacob's enthusiasm kept everyone going through the cold nights."»
Aborto e contracepção
«(...) Nonetheless, the global evidence is clear: If you want to reduce the number of abortions, making them illegal won't work. Making modern contraceptives widely available is far more effective. And, as a not insignificant side effect, this is also a strategy that puts women more firmly in charge of their own bodies and health, saving tens of thousands from death and millions from illness each year.(...)»: The Trojan Paradox - By Charles Kenny | Foreign Policy
Átila, o Huno. Retrato de um flagelo
«He called himself flagellum Dei, the scourge of God, and even today, 1,500 years after his blood-drenched death, his name remains a byword for brutality. Ancient artists placed great stress on his inhumanity, depicting him with goatish beard and devil’s horns. Then as now, he seemed the epitome of an Asian steppe nomad: ugly, squat and fearsome, lethal with a bow, interested chiefly in looting and in rape.(...)»: Nice Things to Say About Attila the Hun | Past Imperfect
Porque é que os homens são tão violentos?
«It will not have gone unnoticed that men are more violent than women. Men perpetrate about 90 percent of the world's homicides and start all of the wars. But why? A recent article in a prominent science journal contends that evolution has shaped men to be warriors. More specifically, the authors claim that men are biologically programmed to form coalitions that aggress against neighbors, and they do so in order to get women, either through force or by procuring resources that would make them more desirable. The male warrior hypothesis is alluring because it makes sense of male violence, but it is based on a dubious interpretation of the science. In my new book, I point out that such evolutionary explanations of behavior are often worse than competing historical explanations. The same is true in this case. There are simpler historical explanations of male violence, and understanding these is important for coping with the problem. (...)». O artigo de Jesse J. Prinz continua aqui: Why Are Men So Violent?
A falência moral
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A crise moral
«(…) Apesar desse seu diagnóstico todos os dias ouvimos dizer que a nossa sociedade é, cada vez mais, uma sociedade sem valores, como é que ...