Bach, o extraterrestre*


Bach Advent Concert from the Benedictine Monastery at Melk

* a propósito de uma entrevista Pessoal e Transmissível ao maestro Pedro Osório, onde este declara, com grande propriedade, que na história da música há vários génios sublimes como Mozart ou Beethoven. E depois há Bach, que não é deste mundo. 

A abrir

Começar um livro pode ser uma das tarefas mais complicadas do processo de escrever um livro. Até pode ser fácil e sem esforço a imaginação flui. Mas será sempre o momento crucial, a arrancada para o ataque à besta que nos encara de frente com o seu rosto branco que intimida. Sobretudo se nos preocuparmos em abrir as hostilidades com uma frase ou um parágrafo marcante, definidor, essencial e original. Por vezes é um gesto fluido, mas muitas outras é doloroso e moroso: começar. Eis como começaram alguns gigantes das letras algumas duas suas obras. Aberturas excelentíssimas: .

“Happy families are all alike; every unhappy family is unhappy in its own way.” — Anna Karenina – Leo Tolstoy


“The human race, to which so many of my readers belong, has been playing at children’s games from the beginning, and will probably do it till the end, which is a nuisance for the few people who grow up.” — The Napoleon of Notting Hill – G. K. Chesterton


“I, Tiberius Claudius Drusus Nero Germanicus This-that-and-the-other (for I shall not trouble you yet with all my titles) who was once, and not so long ago either, known to my friends and relatives and associates as “Claudius the Idiot,” or “That Claudius,” or “Claudius the Stammerer,” or “Clau-Clau-Claudius” or at best as “Poor Uncle Claudius,” am now about to write this strange history of my life; starting from my earliest childhood and continuing year by year until I reach the fateful point of change where, some eight years ago, at the age of fifty-one, I suddenly found myself caught in what I may call the “golden predicament” from which I have never since become disentangled.” — I, Claudius – Robert Graves


“He—for there could be no doubt of his sex, though the fashion of the time did something to disguise it—was in the act of slicing at the head of a Moor which swung from the rafters.” — Orlando – Virginia Woolf


“It was a bright cold day in April, and the clocks were striking thirteen.” — 1984 – George Orwell


“It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair.” — A Tale of Two Cities – Charles Dickens


“As Gregor Samsa awoke one morning from uneasy dreams he found himself transformed in his bed into a gigantic vermin.” — Metamorphosis – Franz Kafka


“Alice was beginning to get very tired of sitting by her sister on the riverbank, and of having nothing to do: once or twice she had peeped into the book her sister was reading, but it had no pictures or conversations in it, ‘and what is the use of a book’, thought Alice, ‘without pictures or conversation?’” — Alice’s Adventures in Wonderland – Lewis Carroll


“It is a truth universally acknowledged, that a single man in possession of a good fortune, must be in want of a wife.” — Pride and Prejudice – Jane Austin


“There was a boy called Eustace Clarence Scrubb, and he almost deserved it.” — Voyage of the Dawn Treader – C. S. Lewis


“Midway in our life’s journey, I went astray from the straight road and woke to find myself alone in a dark wood.” — Inferno – Dante


“It was the afternoon of my eighty-first birthday, and I was in bed with my catamite when Ali announced that the archbishop had come to see me.” — Earthly Powers – Anthony Burgess

Há mais aqui

Ação de Graças

 

William S. Burroughs: A Thanksgiving Prayer 

For John Dillinger 
In hope he is still alive

Thanksgiving Day, November 28, 1986

Thanks for the wild turkey and the Passenger Pigeons, destined to be shit out through wholesome American guts. Thanks for a Continent to despoil and poison — Thanks for Indians to provide a modicum of challenge and danger — Thanks for vast herds of bison to kill and skin, leaving the carcasses to rot - Thanks for bounties on wolves and coyotes — Thanks for the AMERICAN DREAM to vulgarize and falsify until the bare lies shine through — Thanks for the KKK, for n**ger-killing lawmen feeling their notches, for decent church-going women with their mean, pinched, bitter, evil faces — Thanks for "Kill a Queer for Christ" stickers — Thanks for laboratory AIDS — Thanks for Prohibition and the War Against Drugs — Thanks for a country where nobody is allowed to mind his own business — Thanks for a nation of finks — yes, thanks for all the memories... all right, let's see your arms... you always were a headache and you always were a bore — Thanks for the last and greatest betrayal of the last and greatest of human dreams.

Silêncio


«(...) Na Índia, as técnicas de meditação desenvolveram-se para permitir ignorar o barulho que nunca se detém um segundo, sobretudo nas povoações. Nas cidades do Ocidente, pelo contrário, até mesmo aquelas que "nunca dormem", sobrevém algures entre as três e as quatro da madrugada um momento misterioso e elusivo em que o dia anterior fechou os olhos e o novo dia ainda não os abriu. Por alguns minutos faz-se um silêncio absoluto. Quem por acaso acorda nesse instante mágico chega a sentir medo.
Ora, é precisamente o medo que leva o mundo moderno a viver no barulho. Se a natureza tem horror do vácuo, o homem moderno, esse, tem horror do silêncio. 
Está sempre a ouvir-se música em todos os lugares, nas casas, nas lojas, nos restaurantes, nas escolas. Não cessa a bulimia palradora da televisão e da rádio, os bips e rings dos computadores, telemóveis, i-pods. Na rua, as pessoas levam auscultadores nos ouvidos ou falam compulsivamente ao telefone. Os momentos de silêncio que ocorrem por acaso num lugar público ou numa conversa de amigos são motivo da mais extrema inquietação. O silêncio, esse esquisito intruso, é imediatamente expulso pelo barulho que, com alívio geral, recomeça. "Passou um anjo", costumava dizer-se, exprimindo assim o desconforto que o silêncio momentâneo causara. Nos transportes colectivos ou elevadores, uma certa sociabilidade urbana impõe o silêncio, e é mais isso que a forçada proximidade dos corpos que inquieta toda a gente. Antes do barulho electrónico ser portátil, já havia quem, como os ingleses, não suportasse o silêncio dos autocarros ou do metro e se pusesse a ler incessantemente, enchendo a cabeça com o som e a fúria de histórias sem importância nenhuma contadas por tolos (...)»

Paulo Varela Gomes, in Público - Suplemento P2 19 de Novembro 2011

História 3D

A razão de Popper

«Decía Karl Popper que la religión dominante de nuestra época podría definirse en una sola frase: "el malvado mundo en que vivimos".

Según el pensador austríaco la peor influencia de muchos intelectuales (de izquierda y de derecha) era haber convencido a los jóvenes de que estaban viviendo en un mundo moralmente malo y en una de las peores épocas de la historia. A pesar de haber padecido la persecución nazi en los años treinta del siglo pasado, Popper sostenía que esa afirmación sobre la maldad del mundo occidental era una gran mentira. Para él no había habido nunca un sistema social mejor —o menos malo, si quieren— que el consolidado en las sociedades europeas occidentales a finales del siglo XX. Esto, decía, no asegura nada hacia el futuro, pues “no existe ninguna ley histórica del progreso”.

Estoy leyendo un libro fascinante que confirma las tesis de Popper al menos en un aspecto fundamental: la violencia. Con infinidad de números cuidadosamente estudiados, tablas y estadísticas bien calculadas, y datos históricos comprobables y apabullantes, este libro demuestra que nunca antes en la historia del mundo —si se promedian cifras globales— habíamos vivido una era menos violenta. Este horrible mundo en que vivimos, con las masacres de Abu Ghraib y de Mapiripán, con las Torres Gemelas y las guerras de Irak, Afganistán y Libia, es un mundo muchísimo más pacífico y seguro que —digamos— el de las guerras napoleónicas, el de la guerra civil americana o el de nuestras guerras de independencia.(...)»
continua aqui

Política, religião e uma voz religiosa avisada

"We are seeing a return of some very, very dangerous forms of religiosity, a 'religionisation' of politics, among certain radical religious circles. Religion and politics do not mix. When you 'religionise' a conflict you render it incapable of solution because what in politics is a high virtue, in religion, is the greatest vice.... To reach a political solution you have to be able to compromise and that means you have to make a principled separation of religion from power. Some of the religion that has emerged in the 21st century is very dangerous, very scary, and on this I would stand side by side with the 'new atheists.'"

Jonathan Sacks, Rabino Chefe da Commonwealth, esta semana em Toronto

Esquerda, direita, etc.

“Ser de esquerda é, como ser de direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: ambas, em efeito, são formas da hemiplegia moral", José Ortega y Gasset, A Rebelião das Massas, 1937

Shatner e o Hino do Canadá

O sentido da vida

«Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois. São apenas jogos; primeiro é necessário responder. (...)

Se pergunto a mim próprio como decidir se determinada interrogação é mais premente do que outra qualquer, concluo que a resposta depende das acções a que elas incitam, ou obrigam. Nunca vi ninguém morrer pelo argumento ontológico. Galileu, que possuía uma verdade científica importante, dela abjurou com a maior das facilidades deste mundo, logo que tal verdade pôs a sua vida em perigo. Fez bem, em certo sentido. Essa verdade não valia a fogueira. Qual deles, a Terra ou o Sol, gira em redor do outro, é-nos profundamente indiferente. A bem dizer, é um assunto fútil. Em contrapartida, vejo que muitas pessoas morrem por considerarem que a vida não merece ser vivida. Outros vejo que se fazem paradoxalmente matar pelas ideias ou pelas ilusões que lhes dão uma razão de viver (o que se chama uma razão de viver é ao mesmo tempo uma excelente razão de morrer). Julgo pois que o sentido da vida é o mais premente dos assuntos ― das interrogações.»


Albert Camus in o Mito de Sisifo

Gone with the wind

De Olhografias

Mondego

Flânerie. Uma revista de fotografia. Para olhar, pensar, sentir e partilhar



O número zero desta nova revista de distribuição gratuita pode já ser descarregado aqui. E o manifesto editorial é assim:

«Somos fotógrafos - vivemos a fotografia como algo extraordinário, deliberado e consequente, que nos permite reflectir sobre o nosso papel na sociedade contemporânea.
Alimentamos diariamente a dúvida criativa que nos propulsiona no sentido de uma prática onde o pensamento divergente impera. Não recusamos o direito ao erro e abrimos, de par em par, as portas à possibilidade do acaso.
Acreditamos na fotografia como uma prática reflectida e livre e, como tal, implicitamente responsável. Sabemos que a fotografia não se dissocia da vida e por isso arriscamos projectos sensíveis, desenhados a uma escala humana que nunca desejaremos perder de vista.
Pensámos a FLÂNERIE como um projecto que espelha a nossa experiência de um mundo em plena mutação onde a materialidade dos livros co-habita agora com a desmaterialização das publicações electrónicas.
Gostamos de arte ready-made, de objets trouvés e de leitores engagés e, por isso mesmo, criamos uma revista tangente a esse território onde nascem as nossas utopias.
Este objecto coleccionável é assim tanto nosso como vosso pois sois vós, leitores, que farão esta revista deambular entre lugares de afeição ou do vosso quotidiano, tornando-se assim cúmplices na sua distribuição.»

Susana Paiva

Somos todos Charlie Hebdo


Faço minhas as palavras de Bernardo Pires de Lima.

Dias de pensar alto na Figueira da Foz

Novembro é mês de boa colheita na Figueira da Foz. Mês de, pelo menos, dois acontecimentos a não perder:

Eduardo Lourenço na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, dia 25 de Novembro às 21h30. No ciclo 5ªs de Leitura (o convidado de Dezembro, já agora, será Nuno Rogeiro). Entrada Livre

E, no Casino, «A 17 deste mês, a “Ética, Economia, Ambiente e Política” dão o mote a mais uma comemoração do Dia Mundial da Filosofia. Três filósofos de formações distintas – o teólogo e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Anselmo Borges; o economista e professor catedrático da Universidade de Aveiro, José Manuel Moreira; e o professor nas universidades de Salamanca, Córdoba e Complutense de Madrid, José Maria Garcia Goméz-Heras – são os convidados para uma conferência que terá na moderação o jornalista, analista político e professor do Ensino Superior, Carlos Magno.» In O Figueirense

Alterglobalizações. Ou que se lixe o Steve Jobs

Regabofes

Rui Bebiano, um dos mais interessantes pensadores da nossa contemporaneidade e que mantém um dos mais interessantes blogs da mesma, publicou no dito uma pequena reflexão sobre o regabofe. Assim: «Uma frase curta com a qual nos têm martelado os ouvidos, como afirmação supostamente mordaz para justificar tudo aquilo que de mau nos está a acontecer, declara que «é preciso acabar com o regabofe». A frase é incómoda e perigosa porque tem sempre um sentido unívoco. Com ela se pretende indicar que ao longo das últimas décadas as pessoas comuns tiveram direitos a mais, uma qualidade de vida que não mereciam, educação e saúde exageradamente acessíveis, transportes ao preço da uva mijona, férias estupidamente longas, uma estabilidade no trabalho que só lhes fez mal à inteligência e aos músculos (...)». Ora isto nem me parece justo nem me parece razoável. E não é só porque fazer juízos de valor sobre as intenções dos outros seja um terreno pantanoso. Mas sobretudo porque essa frase não tem objetivamente «um sentido unívoco». Muita gente, aliás, quase toda a gente, incluindo certamente Rui Bebiano, tem essa perceção, de que é necessário acabar com o regabofe e não é nada certo que o façam com aquele sentido. No meu caso, é no sentido sobretudo do regabofe na gestão da coisa pública, do estado e das suas ubíquas ramificações. A situação de pré-falência nacional, os ruinosos contratos público-privados, a corrupção, o tráfico de influências e outros cancros políticos estão aí à vista de todos. E reclamam de facto que se acabe com o regabofe. Mas a questão do regabofe também pode ter, efetivamente, outro sentido. E já são dois. Um sentido não político mas privado. E aqui, sim, já se aproximará mais do raciocínio do historiador conimbricense. Este regabofe de que falo (eu e muitos outros que leio e ouço) tem a ver obviamente não com educação, saúde ou transportes, mas sim com uma cultura de consumismo desenfreado que tomou de assalto a nossa sociedade, um materialismo hedonista e voraz que levou, por exemplo, a níveis esmagadores de endividamento privado ou a níveis alarmantes de destruição do meio ambiente. Uma sociedade apaixonada pelo ter e não pelo ser, que parece ter-se esquecido de cuidar do amanhã em nome de um qualquer primado do aqui e do agora. É deste regabofe privado que ouço falar, que também é causa da situação em que estamos. Admito que também existam pessoas perversas que defendam o tal sentido de que fala Rui Bebiano. Mas não é unívoco, já é um terceiro.

O Processo segundo Welles


“Say what you will, but The Trial is the best film I have ever made. One repeats oneself only when one is fatigued. Well, I wasn’t fatigued. I have never been so happy as when I made that film.”, Orson Welles (BBC, 1962)

Dhafer Youssef



Do site: «Dhafer Youssef Quartet performing at the 'Jazz Onze Plus' festival in Lausanne 28 oct 2006. Dhafer Youssef on oud and voice, Eivind Aarset on guitar, Audun Erlien on bass and Rune Arnesen on drums. Song title: 'Odd Poetry'. from Dhafer's 2006 Jazzland release 'Divine Shadows'.»

O mito palestiniano


About the Palestinians

On March 31, 1977, the Dutch newspaper Trouw published an interview with Palestine Liberation Organization executive committee member Zahir Muhsein. Here's what he said:

"The Palestinian people does not exist. The creation of a Palestinian state is only a means for continuing our struggle against the state of Israel for our Arab unity. In reality today there is no difference between Jordanians, Palestinians, Syrians and Lebanese. Only for political and tactical reasons do we speak today about the existence of a Palestinian people, since Arab national interests demand that we posit the existence of a distinct "Palestinian people" to oppose Zionism.
For tactical reasons, Jordan, which is a sovereign state with defined borders, cannot raise claims to Haifa and Jaffa, while as a Palestinian, I can undoubtedly demand Haifa, Jaffa, Beer-Sheva and Jerusalem. However, the moment we reclaim our right to all of Palestine, we will not wait even a minute to unite Palestine and Jordan."

"There has never been a land known as Palestine governed by Palestinians. Palestinians are Arabs, indistinguishable from Jordanians (another recent invention), Syrians, Iraqis, etc. Keep in mind that the Arabs control 99.9 percent of the Middle East lands. Israel represents one-tenth of one percent of the landmass. But that's too much for the Arabs. They want it all. And that is ultimately what the fighting in Israel is about today... No matter how many land concessions the Israelis make, it will never be enough". Joseph Farah, "Myths of the Middle East".

Let us hear what other Arabs have said:

"There is no such country as Palestine. 'Palestine' is a term the Zionists invented. There is no Palestine in the Bible. Our country was for centuries part of Syria. 'Palestine' is alien to us. It is the Zionists who introduced it". Auni Bey Abdul-Hadi, Syrian Arab leader to British Peel Commission, 1937 -

"There is no such thing as Palestine in history, absolutely not". Professor Philip Hitti, Arab historian, 1946

"It is common knowledge that Palestine is nothing but Southern Syria". Representant of Saudi Arabia at the United Nations, 1956.

Concerning the Holy Land, the chairman of the Syrian Delegation at the Paris Peace Conference in February 1919 stated: "The only Arab domination since the Conquest in 635 c.e. hardly lasted, as such, 22 years".

The preceding declarations by Arab politicians have been done before 1967, as they had not the slightest knowledge of the existence of any Palestinian people. How and when did they change their mind and decided that such people existed? When the State of Israel was reborn in 1948 c.e., the "Palestinians" did not exist yet, the Arabs had still not discovered that "ancient" people. They were too busy with the purpose of annihilating the new Sovereign State and did not intend to create any Palestinian entity, but only to distribute the land among the already existing Arab states. They were defeated. They attempted again to destroy Israel in 1967, and were humiliated in only six days, in which they lost the lands that they had usurped in 1948. In those 19 years of Arab occupation of Jerusalem, Judea, Samaria and the Gaza Strip, neither Jordan nor Egypt suggested to create a "Palestinian" state, since the still non-existing Palestinians would have never claimed their alleged right to have their own state... Paradoxically, during the British Mandate, it was not any Arab group but the Jews that were known as "Palestinians"!

What other Arabs declared after the Six-Day War:

"There are no differences between Jordanians, Palestinians, Syrians and Lebanese. We are all part of one nation. It is only for political reasons that we carefully underline our Palestinian identity... yes, the existence of a separate Palestinian identity serves only tactical purposes. The founding of a Palestinian state is a new tool in the continuing battle against Israel". Zuhair Muhsin, military commander of the PLO and member of the PLO Executive Council

"You do not represent Palestine as much as we do. Never forget this one point: There is no such thing as a Palestinian people, there is no Palestinian entity, there is only Syria. You are an integral part of the Syrian people, Palestine is an integral part of Syria. Therefore it is we, the Syrian authorities, who are the true representatives of the Palestinian people"., Syrian dictator Hafez Assad to the PLO leader Yassir Arafat

“Palestine and Transjordan are one.” King Abdullah, Arab League meeting in Cairo, 12 April 1948

“We are the government of Palestine, the army of Palestine and the refugees of Palestine.” Prime Minister of Jordan, Hazza’ al-Majali, 23 August 1959

“Palestine is Jordan and Jordan is Palestine; there is one people and one land, with one history and one and the same fate.” Prince Hassan, brother of King Hussein, addressing the Jordanian National Assembly, 2 February 1970

“Jordan is not just another Arab state with regard to Palestine, but rather, Jordan is Palestine and Palestine is Jordan in terms of territory, national identity, sufferings, hopes and aspirations.” Jordanian Minister of Agriculture, 24 September 1980

“The truth is that Jordan is Palestine and Palestine is Jordan.”
King Hussein 1981

Fonte

Um poema de Lewis Carroll



«This poem anticipates the Imagists by 40 years or so, and is as good an imagist poem as there is. It consists of a succession of what Ezra Pound called "luminous details". Each stanza is like a haiku and embodies a single clear image or idea. Each has 21 syllables, where the traditional haiku has 17, supposedly all that a can be said in a single breath. »

Portugal hoje, uma entrevista

(...) A direita é aquela que acha que os mercados são óptimos e funcionam bem. E a esquerda é aquela que acha que funcionam mal e que temos de os substituir. De facto, o que acontece é que os mercados são excelentes e têm enormes defeitos. O exemplo que dou sempre é o do avião. O avião voa. E às vezes cai. As carroças não caem. A malta que vê cair os aviões fica horrorizada porque morre imensa gente. Mas não estão a pensar voltar a andar de carroça. Os da esquerda são aqueles que querem voltar a andar de carroça e que quando vêem o avião a cair dizem “eu bem disse que isto é uma coisa horrível que funciona mal”. Os outros ficaram horrorizados porque partiram do princípio de que os aviões nunca caem. Estamos numa situação em que estão a mostrar-se os defeitos que sempre existiram – e que nem sequer são raros. Os keynesianos e os de esquerda andam todos contentes. Só os liberais acéfalos que acharam que o mercado estava sempre a funcionar bem e que quanto mais mercado melhor, que nunca perceberam que é preciso ter um equilíbrio entre o mercado e o Estado, é que estão envergonhadíssimos. E depois fazem esta coisa completamente idiota que é renegarem o que andaram a dizer.

Como no caso das agências de rating?

Estas parvoíces que andam a dizer acerca das agências de rating são monstruosas. É chatear o árbitro. Ninguém disse que a Moody’s não tinha razão. Porquê? Porque a Moody’s não só tem razão, como está a dizer aquilo que os da esquerda andam a dizer: que Portugal não vai conseguir pagar a dívida. Por exemplo, na véspera de a Moody’s ter dito o que disse, o Dr. Silva Lopes disse exactamente o mesmo. No sábado seguinte o “Expresso” louvou o Dr. Silva Lopes e condenou a Moody’s, o que é uma coisa extraordinária. Ninguém diz que a Moody’s está errada. Dizem que a Moody’s não devia ter dito o que disse ou que não devia sequer existir. (...)


“Estas parvoíces que andam a dizer acerca das agências de rating são monstruosas

O desejo

¿Para qué quiero tu alma? -me dice-. El alma es el patrimonio de los débiles, de los héroes tullidos y las gentes enfermizas. Las almas hermosas están en los bordes de la muerte, reclinadas sobre cabelleras blanquísimas y manos macilentas. Belisa. ¡No es tu alma lo que yo deseo!, ¡sino tu blanco y mórbido cuerpo estremecido!

Federico García Lorca, “Amor de don Perlimplín con Belisa en su jardín"

Nas horas vagas tenho feito isto




Livreiro Velho: Memórias e Ideias com lombada

Uma entrevista imperdível para quem gosta de livros, com o livreiro e editor veterano Manuel Medeiros, na preciosa Portugal Ilustrado. Termina assim:

«(...) Não está preocupado com todo este discurso em torno do digital, da leitura do futuro, que talvez deixe de ser feita em papel?

Nada. Pelo contrário, estou cada vez mais entusiasmado, até porque pensei que já não ia assistir a isso e ainda estou a assistir. Está a acontecer agora. Aliás, devo dizer que tenho imensa esperança em tudo isso.»

Portugal. Um retrato social. Lembrar é perceber



«Uma série, da autoria de António Barreto (e Joana Pontes), que retrata a sociedade portuguesa contemporânea. Portugal, Um Retrato Social Esta série é um retrato da sociedade e dos portugueses na atualidade, resultado de um processo de transformações recentes e muito rápidas. Uma velha nação e um antigo Estado, na origem de uma população com forte sentido de identidade, conheceram, nas últimas décadas do século XX, um período de mudança muito intensa, sobretudo em consequência de fatores externos, como a emigração, a integração europeia, a abertura económica e o turismo. A fundação da democracia teve também efeitos importantes. Estas transformações estão na origem de alterações de comportamentos e das estruturas sociais, visíveis nos diversos sectores e áreas da vida coletiva, na demografia, na saúde, na educação, no trabalho e nas relações entre as classes, as gerações e as regiões. A sociedade portuguesa é hoje aberta e plural.»

Jung e a morte

Ideias para o país

Ontem à noite andava a fugir ao espetáculo histérico da campanha eleitoral televisiva, e fui serenar as ideias para uma entrevista que entretanto estava a dar na SIC Notícias, entre o sempre excelente António José Teixeira e um homem que devia ter mais palco em Portugal (sim, acho que tem pouco), Artur Santos Silva, que o comum dos mortais conhece como «banqueiro», por ser fundador e presidente do BPI, mas que é muito mais do que isso. É também um homem inteligente, que conhece como ninguém o sistema e que tem ideias importantes. Ainda que para muitos a mera referência à palavra "banqueiro" possa causar repulsa, vale a pena tapar o nariz e ouvir ou ler este senhor onde e quando for possível.

Na altura em que se falava sobre se em Portugal há Estado a mais ou Estado a menos, tomei algumas notas. Para Artur Santos Silva, há pelo menos três níveis de entendimento dessa questão. A nível cultural, e sobretudo na cultura empresarial, na cultura privada, lamenta, «nós não largamos o situacionismo». Consequência? «Tem havido excessiva miscigenação entre aqueles que gerem o bem público e aqueles que gerem interesses privados».

Depois de décadas de Estado Novo, marcado por um forte iliberalismo e pela manutenção de um status quo de relações de privilégio e de monopólio com certos grupos económicos e famílias poderosas, com um Estado todo poderoso e tutelar, Portugal ainda mantém muitos desses hábitos e mentalidades, apesar de começar a ganhar alguma massa crítica privada independente, mais liberta da tutela e do favor estatal, e como tal menos onerosa também para o cidadão contribuinte. Esse, defende Santos Silva, deve zelar para que os seus impostos garantam, por exemplo, o seguinte: Um sistema em que o «Estado deve assegurar a existência de reguladores mais capazes e independentes», escolhidos e escrutinados com verdadeira transparência no Parlamento.

O Estado na economia, como tal, tem sobretudo de ser um bom regulador e um bom aplicador da regulação.

Já na sua incontornável função de estado social, essa «tem de ir para os mais fracos, o mais longe possível; agora, para os que possam pagar...». Acho que sim. E muito mais. A entrevista foi longa, estas notas ficam muito aquém e espero que esteja em breve nas internets, porque é de ouver.

Secularismo

"Religious leaders easily assume that secularism means a rejection of religion. In fact, it is merely a resituating of religion in a free society. The secular mind makes space for religious belief and spiritual practice but challenges the assumptions of privilege that religious people often drag along from an earlier age", Laurence Freeman, The Tablet

Física nos limites


«THE EDGE OF PHYSICS tells the story of our quest to understand the universe, as seen through the eyes of a traveller. It's a journey to the ends of the Earth —Lake Baikal in Siberia, the Atacama Desert in the Chilean Andes, an abandoned mine in North America, Mauna Kea in Hawaii, the subterranean lair of the Large Hadron Collider near Geneva, the barren Karoo in South Africa, the frozen frontier of Antarctica and the Hanle Valley in the Indian Himalayas —in search of the telescopes, detectors and experiments that promise to shed light on the most pressing questions in physics and cosmology today.»

O financiamento público dos média, o financiamento dos média públicos, a realidade norte-americana comparada com o resto* do mundo

Funding public media: How the US compares to the rest of the world » Nieman Journalism Lab » Pushing to the Future of Journalism

Conclusões a reter:

• US per capita spending on public broadcasting is $4.
• Research fairly consistently shows that public television, simply put, makes for better quality news.
• As a corollary, public service television, at least in Denmark, Finland, the UK, and the US, makes people better informed and encourages higher levels of news consumption.
• The most trusted public broadcasters are those that are perceived as closest to the public, and most distant from the government and advertisers.
• While some countries play around with appropriations, many of these are for multi-year periods, creating some insulation from political pressure. And other countries, like the UK, Japan, and the Netherlands, rely primarily on license fees.
• Independent buffers between governments and the broadcasters help keep the government out of the content.
• Public broadcasters are all over the board when it comes to Internet transitions. Some are trying to figure out how to raise the money to make things more innovative, while others, like the BBC, are pioneers.
• Government newspaper subsidies are alive and well, and have been for a long time — many since the 1970s. They help keep afloat struggling newspapers and create a diversity of opinion. In some cases, they are even sponsoring innovation online. They exist in Belgium, Finland, France, the Netherlands, Norway, and Sweden.
• Public broadcasters, even in Europe, are facing pressure from commercial broadcasting — and hedge between trying to fulfill public service missions and compete by appealing to large audiences.
• It could be a lot worse.

* resto do mundo é como quem diz.

E que tal voltar a por os pés na terra?

«(...) O Ocidente continua a persistir que a democracia («a liberdade») é uma fórmula política. O pior é que não é - é uma forma de civilização que mesmo na Europa levou dois séculos de conflito, interno e externo, para se impor e que exige a existência prévia de uma cultura "iluminista" (de qualquer espécie, francesa, inglesa ou alemã...) e de um Estado decididamente secular. Se o Egipto, que nunca pertenceu, nem temporariamente, ao mundo democrático se sair deste aperto com uma ditadura militar, menos brutal e menos corrupta do que a de Mubarak, já é uma sorte. Uma grande sorte»

Vasco Pulido Valente (O Egipto, Público, 13/02/11)

A propósito do Egito, um livro sonoro de Bernard Lewis

O que é que correu mal com o mundo islâmico? Aqui: What Went Wrong? Bernard Lewis - Free Audiobook

A propósito destes dias frios, um soneto de Shakespeare

Ou de como a velha e boa Literatura encontra espaço para florescer nesta nova e boa era digital:



How like a winter hath my absence been
From thee, the pleasure of the fleeting year!
What freezings have I felt, what dark days seen!
What old December's bareness everywhere!
And yet this time remov'd was summer's time,
The teeming autumn, big with rich increase,
Bearing the wanton burthen of the prime,
Like widow'd wombs after their lords' decease:

Yet this abundant issue seem'd to me
But hope of orphans and unfather'd fruit;
For summer and his pleasures wait on thee,
And thou away, the very birds are mute;
Or if they sing, 'tis with so dull a cheer
That leaves look pale, dreading the winter's near.

Ebooks estimulam a leitura entre os mais novos

Para desgosto dos incondicionais do objecto livro em papel e para alegria de quem gosta simplesmente de ler, as novas plataformas de leitura digital (e-readers como o Kindle ou tablets como o iPad, que também servem para ler livros) estão a captar imensos novos públicos para os livros.

Nos EUA - país que tradicionalmente lidera as tendências culturais que mais cedo ou mais tarde se impõem no resto do mundo - o grande boom dos ebooks tem-se verificado precisamente na área da literatura infanto-juvenil. As novas gerações digitais mostram o caminho, que não é tão negro como parece a alguns tradicionalistas.

«Something extraordinary happened after Eliana Litos received an e-reader for a Hanukkah gift in December. “Some weeks I completely forgot about TV,” said Eliana, 11. “I went two weeks with only watching one show, or no shows at all. I was just reading every day.” (...)»: E-Book Sales Rise in Children’s and Young Adult Categories - NYTimes.com

TED Talks em formato de livro digital

Ora aqui está uma excelente notícia, sobretudo para os fans das fantásticas conferências TED Talks, uma das mais fascinantes fontes de conhecimento que se podem encontrar na web. E sobretudo para quem prefere o prazer de ler ao prazer de "ouver". As TED em forma de ebook. Nem mais: as conferências transpostas para livros, disponíveis na Amazon em formato de Kindle Singles e legíveis em qualquer dispositivo que tenha o Kindle App respectivo. Só tem um pequeno defeito, esta ideia, é que os livros digitais não são caros (2.99 dólares) mas, ao contrário das conferências, não são grátis. Mas o Life Hacker explica melhor: Mind-Stimulating TED Talks Take Ebook Form

Correntes d’Escritas: Literatura ibérica em destaque na Póvoa do Varzim

«O Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, que terá lugar de 23 a 26 de Fevereiro, irá trazer à Póvoa de Varzim cerca de 65 escritores de 12 países, sendo que 22 participam pela primeira vez no evento, informou Luís Diamantino destacando a presença de Eduardo Lourenço. Em evidência, entre os participantes, Laborinho Lúcio, antigo Ministro da Justiça, que fará a Conferência de Abertura, no dia 23, às 15h30, no Auditório Municipal»: Correntes d’Escritas: programa apresentado hoje — Portal da CMPV

Chatroullete para doentes

O conceito/efeito Chatroullete multiplicou-se entretanto numa imensidão de formatos e projectos. Um dos mais interessantes é este HealCam, onde gente doente pode encontrar conforto ou conselho junto de quem padece da mesma maleita: HealCam: Talk to Patients Like You

A globalização (também) é isto

Email, Twitter, Facebook, Al Jazera, BBC, Wikileaks, NYT, You Tube, SMS's, Blogues, Feeds RSS, são apenas alguns rostos de charneira para uma revolução mais vasta e que transportam para a rua popular a velha máxima das elites: Informação é poder. Não deixa de ser curioso, por outro lado, que todas elas representam o triunfo global do soft power democrático-liberal ocidental e, em grande medida, norte-americano. Resta saber até onde resistirão à mudança e ao apelo da liberdade regimes mais repressivos, mais religiosos e consolidados como o Irão (que recentemente conseguiu abafar uma revolta popular semelhante às actuais) ou a Arábia Saudita: Middle East protests: Fearless protesters challenge regimes around Middle East - latimes.com

Palavras

Anselmo Borges, a natureza e os animais

Só é pena os cristãos comuns não andarem normalmente a par destas exegeses mais progressistas, enfim. Fora isso, temos aqui uma reflexão pertinente e até diria corajosa, vinda de uma figura de proa de uma comunidade (católica) regra geral conservadora. O povo das touradas crente e temente é que é capaz de não achar muita graça. É de ler. Aqui: Conviver com a natureza e os animais - Opinião - DN

Os EUA e a China, segundo Kissinger

Portugal e a culpa dos outros

Certeiríssima crónica a de hoje de Vasco Pulido Valente no Público, que fala do estado danação, se chama «Mudar de Regime» e que reduz à sua relativa insignificância os bodes expiatórios da moda: os «neoliberais», os «mercados» e outros esoterismos afins. Infelizmente, o Público online só permite o acesso da prosa a assinantes, por isso fica aqui apenas uma amostra:

«Dez milhões de portugueses foram vítimas de uma fraude, que os fará passar anos de miséria. Toda a gente acusa deste crime, único na nossa história recente, entidades sem rosto como os "mercados", a "especulação" ou meia dúzia de agências de rating, que por motivos misteriosos resolveram embirrar com um pequeno país bem comportado e completamente inócuo. Mas ninguém acusa os verdadeiros responsáveis, que continuam por aí a perorar como se não tivessem nada a ver com o caso e até se juntam, quando calha, ao coro de lamúrias (...).

Certos pensadores profissionais acham mesmo que o próprio regime que engendrou a presente tragédia é praticamente perfeito e que não se deve mexer na Constituição em que ele assenta. Isto espanta, porque a reacção tradicional costumava ser a de corrigir as regras a que o desastre era atribuível. Basta conhecer a história de França, de Espanha ou mesmo de Portugal para verificar que várias Monarquias, como várias Repúblicas, desapareceram exactamente pela espécie de irresponsabilidade (e prodigalidade) que o Estado do "25 de Abril" demonstrou com abundância e zelo desde, pelo menos, 1990. A oligarquia partidária e a oligarquia de "negócios" que geriram, em comum, a administração central e as centenas de sobas sem cabeça ou vergonha da administração local não nasceram por acaso (...)».


Nem de propósito, o Diário de Notícias tem transformado esta opinião em factos num excelente dossier sobre o estado a que o Estado chegou. Está aqui e também é de leitura altamente recomendável. Agora queixem-se dos «mercados»...

p.s.: Entretanto encontrei isto, com uma reprodução digitalizada do texto de VPV.

Ainda a Tunísia

Era bom que servisse de facto de rastilho para os povos das restantes ditaduras árabes, que, aliás, compõem quase todo o mundo árabe. Aliás, quase todo o mundo muçulmano. O problema é que não há alternativas democráticas e a única opção viável acabam por ser os movimentos religiosos, por norma radicais. Que é mais ou menos sair da frigideira para a panela. Entre uma ditadura secular à tunisina e uma teocracia à iraniana, venha o diabo e escolha...Joy as Tunisian President Flees Offers Lesson to Arab Leaders - NYTimes.com

A propósito da Tunísia

«The spirit of resistance to government is so valuable on certain occasions, that I wish it always to be kept alive», Thomas Jefferson

Triste. Muito triste

É simplesmente inacreditável a enxurrada de anormais cavernícolas que estão a saltar do armário em tudo o que é website noticioso e blog a propósito do homicídio de Carlos Castro. O JN online, então, é particularmente assustador. O que me incomoda mais nisto tudo, de facto, nem é tanto rezarem missas pelo assassino sem um ámen sequer pelo assassinado. Ou a desculpabilização homofóbica colectiva de um homicida. É mais as centenas de comentários que poluem os artigos com ódio, estupidez e intolerância e que explicam à saciedade a razão profunda da nossa crise centenária que se agudiza. Perante a qualidade destes cidadãos, desta multidão de grunhos beatos, nem o FMI nos safa. Tristíssimo.

Sítios a não perder no distrito de Coimbra

Excelente, esta lista de pontos de interesse incontornáveis nos 17 concelhos do distrito de Coimbra. Aproveitem e continuem a visitar este website Portugal Notável, que é em si próprio um sítio notável: 104 locais notavéis de Coimbra | Portugal Notável. Os mais belos lugares. Guia das melhores Viagens na Minha Terra...

Eles andem aí, versão alegre

Olha este também caiu na vertigem prapular das conspirações. Mais uns dias e está a falar do Grupo de Bilderberg. Era ainda mais interessante se, em vez de remeter para Cavaco, explicasse ele próprio qual é afinal o significado da entrada do FMI. E já agora, que explique tambem qual o significado e a consequência da respectiva não-entrada. Assim dá a impressão de que não sabe do que está a falar, que está a levantar poeira e, sobretudo, que o opositor sabe mais do que ele de assuntos que são hoje os mais prementes para os portugueses. E se não percebe de Finanças, pelo menos rodeie-se de quem sabe. Assim não. Para mandar bitaites inconsequentes já bastam os outros. Acção especulativa para forçar FMI tem cumplicidades em Portugal - Economia - Jornal de negócios online

Da coerência e das convicções

Recentemente, entre a poesia de algumas campanhas políticas, tomou de novo relevo aquele grosseiro hábito de polemista que consiste em levar a mal uma criatura que ela mude de partido, uma ou mais vezes, ou que se contradiga freqüentemente. A gente inferior que usa opiniões continua a empregar esse argumento como se ele fosse depreciativo. Talvez não seja tarde para estabelecer, sobre tão delicado assunto do trato intelectual, a verdadeira atitude científica.
Se há fato estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentada sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo própria. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro conseqüentemente. Como, então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando não só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo Estádio de evolução tal desgraça seria natural.
A coerência, a convicção, a certeza são, além disso, demonstrações evidentes – quantas vezes escusadas – de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade.
Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter não crenças religiosas, opiniões políticas, predileções literárias, mas sensações religiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária.
Certos estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm, sobretudo quando excessivos, o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variarão, como é de entender, consoante esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz da sua sensibilidade e da sua inteligência espelhos do mundo transitório: é republicano de manhã e monárquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, e católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo admitir senão Mallarmé àqueles momentos do anoitecer citadino em quem desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo uma invenção de louco quando, ante uma solidão de mar, ele não souber de mais do que da Odisséia.
Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida.
Quando é que despertaremos para a justa noção de que política, religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética – a estética dos que ainda não podem ser? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerência tiver acostumado suas sensações a viverem independentemente se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegância e serenidade na vida.

Fernando Pessoa in “Do contraditório como terapêutica da libertação”

A crise moral

«(…) Apesar desse seu diagnóstico todos os dias ouvimos dizer que a nossa sociedade é, cada vez mais, uma sociedade sem valores, como é que ...